quarta-feira, 11 de abril de 2007

Quem tem medo das privatizações?

Quem tem medo das privatizações?

Em toda a véspera de eleição ocorre sempre a mesma gritaria. São os funcionários das empresas estatais, de seus sindicatos e outros interessados, querendo conseguir um compromisso público dos candidatos a favor da manutenção das empresas nas mãos do Estado. Isso sem contar as estratégias eleitoreiras.

Tirando essas últimas, um tempo achei que eram apenas corporativismo e defesa de benesses, mas recentemente, ao ter contato com um conceito chamado de "QA - Coeficiente de Adversidade" criado por um cientista americano, Dr. Paul Stoltz, vi que era muito pior do que isso.

Coeficiente de Adversidade, segundo o Dr. Stoltz é a capacidade e o tipo de reação dos seres humanos perante os problemas, em média 25 significativos por dia. Todas as pessoas têm o seu QA, mas com grandes variações entre si. Quanto menor, piores as reações e maior o risco da pessoa se desequilibrar, se imobilizar ou reagir negativamente perante a adversidade. Por outro lado, quanto maior, melhor reage.

Foram realizados levantamentos em diversos lugares e em breve isso deverá ocorrer no Brasil também. Algumas evidências devem confirmar situações similares a de outras culturas. Pesquisas informais, análises dos dados dos outros países, conversas com o Dr. Stoltz e leitura dos seus livros indicam que aqui também a gritaria contra a privatização transcende negativamente o corporativismo. É algo doentio e perverso.

O pior QA médio é encontrado no ambiente público – eis porque precisam “cláusulas pétreas”, que impedem a dispensa de funcionários e distância do sadio nível de exigência do ambiente privado. Como normalmente são pessoas inteligentes, pois passaram por algum concurso difícil, a pergunta a ser feita é: escolheram algo assim porque já tinham QA baixo ou ele foi reduzido em função do ambiente? No fundo, tanto faz.

O doentio está no funcionário ser conivente com algo assim, pois o seu QA não é cada vez mais baixo apenas no e para o trabalho, mas para a vida. Ele perde em qualidade, graça, prazer, evolução e como gerador de benefício social. O perverso está na cumplicidade do restante da sociedade em manter uma situação mediocrizante.

O que é ruim para todos, pois o baixo QA médio de quem trabalha nas empresas, seja as “do povo brasileiro” ou outras, faz com que o serviço que prestem tenda a ser inadequado, ou caro, ou... Invertemos todos os valores – quem deveria servir, por que não quer ser confrontado com adversidades, tende a apenas se servir.

Quanto à escala do QA, em seguida, ainda entre os piores (quartil inferior), vem o meio acadêmico. Outra péssima notícia – capacidade de superar adversidades baixo, justo no ambiente onde se deveria formar positivamente o caráter dos nossos jovens! Isso explica a enorme resistência a mudanças neste ambiente (mudar gera adversidades) e o fato de formarmos tantos jovens voltados a passar em algum concurso ou serem empregados.

Segue o QA encontrado na base da pirâmide operacional das empresas privadas, depois vem o da sua gerência intermediária, então o da chamada “alta gerência”. Este é similar aos dos pequenos e médios empreendedores independentes. O mais alto QA médio é o dos empresários. Este último sempre tem sido o maior em todos os países, o que é bastante óbvio.

Didaticamente, quando alguém de QA baixo encontra seu carro com o pneu murcho, se lamenta profundamente e o restante do seu dia está estragado. Ocorrendo o mesmo para uma pessoa com o QA alto, ela simples e automaticamente troca o pneu e reorganiza mentalmente suas atividades adequando-as ao novo cenário. Ou seja, o mesmo episódio para uma pessoa é uma tragédia, para a outra, apenas um transtorno. Isso considerando um problema menor. Imagina quando esses são maiores.

Esse “pequeno detalhe” – como a pessoa reage perante a adversidade, proporciona uma enorme diferença na qualidade de vida e na sua preparação para ela e quanto receia o nível de exigência do ambiente privado. Napoleão dizia – tragédia ocorre quando morremos. Se não é esse o caso, é apenas um transtorno ou uma oportunidade a mais.

A notícia boa é que o próprio Dr. Stoltz também desenvolveu uma metodologia bem acessível e simples para melhorar o QA. Se só o fato de saber que algo assim existe, já faz com que se mude, imagina o que ocorre quando há uma preparação para isso. Um boa parte de como proceder pode-se encontrar nos seus livros traduzidos inclusive para o português.

Elevar o QA é benéfico para pessoa, a sociedade como um todo, pois melhora imensamente a qualidade de vida. De todos, independente onde e com o que se trabalhe, pois o dono do capital não deveria importar, apenas a filosofia e o DNA empresarial.


Ter esse conhecimento e continuar a ser partícipe ou apoiador da não privatização nos torna coniventes com a desgraça alheia e perversos conscientes, algo muito ruim e segundo os adeptos da filosofia oriental, gerador de karma. A consciência para os dependentes do emprego nas empresas, estatais ou não, por baixo QA, e que o querem manter assim, tem implicações muito negativas. Amplifica o risco das suas frustrações se ampliarem mais ainda com as 25 “tragédias” diárias e assim somatizarem algum câncer ou outra doença psicossomática.

Harry Fockink harry@fockink.com.br

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