quarta-feira, 11 de abril de 2007

Coisas de gaúcho

Coisas de gaúcho
Sem dúvida, no Rio Grande do Sul se desenvolveu algo especial em termos de inteligência, pois somos um “inconsciente coletivo” gerado a partir de diversas culturas, onde realmente houve miscigenação.
Especialmente quatro muito complementares entre si, são preponderantes. Somos uma mistura de alemães, italianos, portugueses e argentinos/espanhóis. Dos alemães temos a habilidade técnica, a capacidade de sistematização, o vínculo com e o orgulho pelo trabalho. Dos italianos a inventividade, o "dar nó em pingo d’água", a criatividade, senso estético. Dos portugueses, a preservação dos valores, tanto que o movimento do tradicionalismo gaúcho, é o maior movimento cultural organizado do mundo e dos argentinos/espanhóis, a postura de "deixa comigo" – disponibilidade e voluntarismo.
Sendo assim, porque não somos o Estado mais desenvolvido e economicamente forte? Porque ainda não "tomamos conta do mundo"? Muitas vezes só conseguimos “dar certo” saindo daqui ou “fazendo de conta” que estamos sendo caudatários de outros, ou pior, nos subordinando a interesses espúrios e alienos aos nossos, bastando para isso que nos dêem um aparente destaque, um falso primado, algo que nem de longe pode ser encarado como a realização sadia e positiva de um potencial inerente.
Limitamo-nos imensamente nas nossas possibilidades, por termos herdado também o lado perverso, doente, complexual, ruim, destas culturas. Dos alemães a inveja, grande desperdício de tempo e energia. Dos italianos, a "cultura Grenal" - torcer mais contra o outro, que a seu favor, somos o povo mais fofoqueiro do Brasil e possivelmente do mundo, o que é maior desperdício que a da inveja. A "cultura Granal,", é algo bastante presente na cultura latina, mas mais forte nos que vieram “per fare l’América”.
Dos portugueses, o complexo de vira-lata, o que nos faz ter a postura de nos sentirmos menos capazes e grandes do que em realidade somos, levando a uma estúpida subordinação a outros, muito menos capazes do que nós.
E dos “hermanos”, a arrogância infantil, pois compramos brigas que não são nossas e nos omitimos nas que nos dizem respeito, acabando mais “sendo do contra", apenas por ser, do que na verdadeira busca de vantagens e resultados, repetindo um comportamento de pré-adolescente, que disputa com os amigos “quem tem o maior”, quando para a sua finalidade, pelo menos em relações heterossexuais, essa é a última coisa a ser valorizada. Quando se faz isso como adultos, temos as crises de ciúmes e os ”concursos de beleza” mais fúteis e estúpidos que se pode ter.
Cada um desses desvios de conduta, por si só já atrapalha. Obviamente misturados, mais ainda, o que gera uma imensa frustração. Isso nos torna extremamente manipuláveis por aqueles que dominam a tecnologia de lidar com as massas, pois ela se baseia especialmente na exploração da frustração das pessoas. O que ocorre mais fortemente com os frustrados.
Dentro deste contexto, muitas vezes causamos enormes prejuízos, a nós e a outros, quando circunstancialmente o lado doente é mais forte que o sadio.
Como um pequeno exercício de mudança consciente de um comportamento negativo, pode-se começar por não ser fofoqueiro , falar mal dos outros, ou pelo menos nos informarmos direito ou não acreditar em desculpas usadas por outros para justificar erros cometidos por eles, por exemplo.
Para que não sejamos multiplicadores de mediocridade, ou seja, fofoqueiros e não emitir conceitos inadequados sobre algo ou alguém, quando se é solicitado a isso ou não, deveríamos ter a especial gentileza e educação de nos informar a respeito da consistência e coerência do que vamos comentar. Assim, se porventura um dia quisermos nos manifestar ou formos instados a isso e se tenha apenas um lado da versão, para não sermos tipicamente meros fofoqueiros gaúchos, convém, no mínimo, ressaltar isso, pois em todo o fato sempre existem duas versões e normalmente “médium virtum est”, ou seja, a virtude está no meio. Havendo algum fato nos imponha responder a respeito do que somos consultados, em se achando que devemos nos posicionar, que tal ouvir o que o outro lado tem a dizer do que se soube apenas de um, ou pelo menos referir que se conhece apenas um lado da versão?
Precisamos, nós gaúchos, nos responsabilizar e beneficiar com essa especial inteligência que temos, fazer com que ela pare de se voltar contra a nossa evolução, crescimento social e econômico. Se cada um se preocupar em se ajudar e basta isso para que paremos de prejudicar gratuitamente outros, a vantagem coletiva será enorme, como atestam aqueles que agem assim.
No mínimo, iremos parar de apenas valorizar o que “vem de fora”, como melhor do que o nosso.

Posso contar com você?

Harry G. Fockink, empresário, mentor da “Universidade do Churrasco” harry@fockink.com.br

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