quarta-feira, 11 de abril de 2007

Modelo de Ensino Aprendizagem baseado em desenvolvimento de competências

Modelo de Ensino Aprendizagem baseado em desenvolvimento de competências

A Universidade como rito de passagem sadio.

Mestre, etimologicamente vem de mae tre, três vezes mais, ou seja, era a forma pela qual pessoas comuns se referiam àqueles que sabiam três vezes mais – para si, para os outros e para fazer mais aos outros – tinham conteúdo sempre em evolução, davam o exemplo e ainda possuíam a capacidade de fazer os outros se transformarem em pessoas melhores – eram mentores, quando transmitiam experiência e treinadores, coachs como o mercado as tem chamado, quando proporcionavam o desenvolvimento das competências de seus interlocutores.

Evoluímos muito em todos os campos, menos no processo de ensino e aprendizagem. Não conseguimos sistematizá-lo e nem padronizar os pré-requisitos condicionantes a ponto de ter apenas mestres na função de quem tem o papel de ensinar. Ensinar e aprender continuam sendo feitos como sempre o foram, milênios a fio. Ser mestre é um acaso e não um pressuposto e resultado sistêmico de um processo estruturado.

Em outros campos, um dos grandes estímulos foi a necessidade, a mãe das invenções, que muito contribuiu com a evolução. Independente da causa, eis chegada a hora de evoluir no processo de ensino aprendizagem. Especialmente no ambiente universitário, pois a partir dele irá ocorrer a mudança na sociedade como um todo.

Para desencadear a mudança de patamar inicial e no futuro termos basicamente Mestres envolvidos no processo, alguns pontos começam a se evidenciar:

Todos profissionais que exercem a sua atividade no ambiente universitário, mesmo os que apenas estão professores, seja por que razão for inclusive os das matérias “apenas” de conteúdo técnico, precisarão ser, pelo menos, mentores – repassarem experiência prática válida e coerente com as necessidades atuais. Melhor ainda se dominarem a metodologia do coaching, pois assim não só ensinarão boas práticas, mas serão capazes de fazer seus alunos desenvolverem suas competências.

Quem toma para si o papel de ensinar recebe junto a responsabilidade de ser ou se tornar Mestre. Essa deverá ser a regra. Sempre houve bons professores ao longo da história da humanidade mesmo que, às vezes, a diferenciação, não estivesse claro nem para os próprios. Para os alunos estava, pois eles sempre souberam diferenciar entre feitores, mentores e coachs. Cada um atraindo o seu público específico – respectivamente imaturos, aprendizes e os discípulos verdadeiramente diferenciados.

Entre as razões que abafaram a evolução do processo, encontramos um mercado generoso com alta demanda, o que não impunha a exigência - para ensinar precisa ter a atitude adequada. E ela é fundamental, pois proporciona aos outros a cultura de desenvolver a atitude deles. Aceitava-se a postura da imposição do conhecimento de cima para baixo e não a da sua divisão ou construção. Impor é menos trabalhoso, pois para isso basta ter algum conteúdo, nem sempre útil ou não necessariamente adequado ao escopo. Como o acesso ao conteúdo independe cada vez mais da presença física, esse tipo de “modelo de ensino” também se torna obsoleto.

O Mestre, como coach, tem como função básica ajudar aos seus discípulos, seus estudantes, a desenvolverem suas competências. Principalmente os fazendo descobrir quais são estas, com fundamental importância para a competência básica, o que também é chamado de dom, aquilo com o qual a pessoa se envolve com prazer e faz com diferencias significativos, especial desenvoltura e qualidade. Nem sempre isso é possível, por isso o Mestre deve saber como desenvolver a mais importante das competências – a capacidade de superar adversidades.

Como corolário deste papel, os professores, que então realmente passam a merecer o título de Mestres. Como coachs devem conseguir que os alunos se responsabilizarem por si, levando-os a ter seu planejamento e metas pessoais. Devem ajudá-los a adotar metodologias que sistemicamente os fazem evoluir desenvolvendo, por exemplo, seu Balanced Score Card Pessoal - BSC Pessoal, monitorado e atualizado pelo próprio estudante e ao mesmo tempo servindo de instrumento de acompanhamento do seu processo de evolução, ao invés das notas ou conceitos hoje usados.

O BSC Pessoal é uma metodologia, um processo, que foi desenvolvido pelo Dr. Hubert Rampersad. É um conceito integrado e holístico de melhoria pessoal que combina a abordagem tradicional do BSC corporativo com a teoria da Organização que Aprende. Denominada Total Performance Scorecard (TPS), inicia no estabelecimento da definição da visão, missão e metas pessoais nos campos básicos da pessoa. Proporciona a elaboração de um planejamento pessoal e assim do estabelecimento de um processo de monitoramento e auto monitoramento, ou seja, um acompanhamento detalhado feito pela própria pessoa e de agentes externos, caso isso seja necessário, solicitado, ou desejado.

O TPS cria uma forma inédita, racional, técnica e consistente de inverter o processo de avaliação que normalmente ocorre, de fora para dentro, para ser essencialmente uma auto-avaliação, de dentro para fora. E isso faz toda a diferença. Se fizermos para nós, se competimos conosco, se usamos nossa capacidade para constantemente evoluir, sermos a nosso favor e não perdermos tempo sendo “contra os outros”, a evolução e crescimento se dá numa velocidade incomparavelmente superior a qualquer outro método. O TPS explora com simplicidade e profundidade temas como o da melhoria contínua, gestão racional da mudança, da capacidade de empreender e do aprendizado organizacional, interligando ainda metas pessoais com as empresariais, no caso de pessoas vinculadas a alguma empresa, possibilitando uma evolução sadia da cultura organizacional.
O conceito tem ainda como premissa transformar o conhecimento tácito que as pessoas têm, mas não compartilham, em explícito, o que mais uma vez reforça o ciclo virtuoso do crescimento pessoal.
O TPS resgata conceitos importantes da gestão contemporânea – como o ciclo PDCA da Qualidade Total, o ciclo de aprendizado de Kolb, a melhoria contínua, Coaching, responsabilização do indivíduo por si e trabalho em equipe. E tem o mérito de integrar tudo isso com coerência e criatividade. O que demonstra novamente a necessidade do professor dominar estas ferramentas. Isso ocorrendo, ele pode:

Proporcionar condições para que seus estudantes se livrem de crenças irracionais mediocrizantes, internalizadas no ambiente familiar, social, escolar e religioso pregresso, que, apesar de pleno de “boas intenções”, por limitação da maioria do envolvidos – quem deles é ou foi mentor? -, apenas tende a levar a pessoa a ser um medíocre a mais.

Instrumentar os alunos na habilidade básica de quem está buscando o crescimento pessoal - a capacidade, a competência de superar adversidades, o fator que têm em comum todas as pessoas bem sucedidas, independente do que isso signifique para quem o é.

O domínio e internalização dessa metodologia por parte dos que ensinam é cada vez mais importante, pois o jovem tende a vir de um ambiente de baixa responsabilização por si mesmo, com limitada capacidade de superar adversidades, sem grande auto-conhecimento. Na melhor das hipóteses, estará apenas tateando na busca da sua competência básica (o seu “dom”) e na mais importante delas, tanto que vale repetir ad nauseum, a da capacidade de superação de adversidades. Ele, ainda muito próximo do conteúdo lúdico importante na infância, onde foi feita sua formação comportamental e pessoal mais forte até o momento, se for adequadamente orientado, saberá transpor o portal do pueril brincar, para o da busca da satisfação do pré-adulto em amadurecimento, assim se transformando num adulto com condições de se realizar holisticamente.

O jovem manifesta sua incapacidade de migrar do lúdico – a busca no curto prazo do prazer, às vezes inconseqüente - para a satisfação, através de baixo nível de responsabilidade. Dificilmente teve oportunidade de desenvolvê-la, seja pela pouca idade, excesso de proteção materna ou familiar ou até falta de oportunidade. Demonstra isso buscando prazer imediato, ou se envolvendo em atividades incoerentes, superficiais ou não sadias, como por exemplo, no uso de drogas ou atividades de alto risco. Se não contar com orientadores adequadamente instrumentados, continuará “brincando infantilmente” pela vida afora, pois não faz a transição de uma criança que crescia pelo lúdico para um ser humano adulto, com um adequado grau de maturidade, que cresce através de atividades produtivas que lhe tragam satisfação. Sem orientação tende a não aprender a buscar e a exercer sua competência básica e ainda terá baixa capacidade de superar adversidades. Será apenas um medíocre a mais, que não persiste até conseguir satisfação, voltando-se para o prazer fugaz mais imediato, independente do que este trouxer para ele, de bem ou mal, ou pior, no Brasil ainda tem a possibilidade de buscar uma falsa proteção via um cargo público.

Para orientá-lo, para proporcionar a responsabilização, a transição auto monitorada do lúdico para a busca da satisfação, através do fundamental auto conhecimento, os seus orientadores, cumprem seu papel de coach ao levá-lo a formalizar seu BSC pessoal.

Com algum apoio, de uma forma simples, mas funcional, se pode fazer com que o jovem defina sua visão e missão e assim busque sua vocação e ainda internalize a necessidade do eterno aprendizado. Desenvolva a valorização do processo, a ponto de ele ser tão importante como o chegar, transformando eventuais adversidades, não em tragédias como os medíocres o fazem, mas em desafios, em uma espécie de corrimão para subir a escada da realização pessoal.

Nesse formato, o professor tem o respeito de seus alunos que passam a ser discípulos e não precisa se impor por conteúdo, medo ou manipulação. A resultante do processo será o estabelecimento de um novo modelo de ensino e aprendizagem, pois o meio, o foco, a relação e a forma desta se dar muda completamente.

No novo modelo, o professor passa a ser, no mínimo, mentor – melhor se coach, algo que pode ser aprendido rapidamente, pois apesar de seu imenso alcance, é simples, bastando uma pequena disponibilidade para a experimentação, uma vez que o instrumentário começa estar cada vez mais disponível.

Melhor ainda se o professor passar a ser mestre, o que tende a ocorrer, pois ao tomar contato com o conteúdo do BSC pessoal e do coaching, com algum esforço inicial, haverá uma forte migração. Ele mesmo, se tiver o bom senso de internalizar e usar para e em si os conhecimentos, irá ou voltará a experimentar satisfação. O professor, ao exercitar o processo ser á o maior beneficiado no curto prazo, o que tende a dar consistência e a realimentar o ciclo virtuoso que se estabelece. O nível de saúde mental evolui imensamente – o professor, muitas vezes extremante frustrado com o que e onde faz, que apenas está, passa realmente a ser.

O estudante, melhor orientado, fortemente preparado para a vida, se responsabiliza pelo autodesenvolvimento, também por ter seu comprometimento, como aluno, monitorado de maneira mais inteligente do que apenas uma nota de tempos em tempos, tradicionalmente conquistada mais por avaliação da sua capacidade de memorização do que uma razão realmente válida.

O jovem passará a ser aferido no que realmente importa - o seu crescimento como ser humano, sua evolução como alguém que, por saber como desenvolver suas competências, será bem sucedido em todas as dimensões da vida, inclusive na que envolve conhecimento técnico que tem a ver com seu mercado de trabalho. O conteúdo e o mercado deixam de ser a prioridade como é hoje, quando se formam essencialmente empregados ou candidatos a concursos públicos. A pessoa que tem suas competências desenvolvidas, especialmente a básica e a da superação de adversidades, se responsabiliza por si e construirá o seu próprio mercado de trabalho, se esse não existir. E ainda será oportunidade para outros que não tiveram o privilégio de terem tido mestres, ao lhe proporcionar empregos.

O papel das IES passa a ser a formalização da oportunidade. Deve proporcionar a seus professores e assim alunos, a seus funcionários e especialmente a seu corpo diretivo, as ferramentas e metodologias para que todos vençam o desafio de formalizar o novo modelo de ensino e aprendizagem baseado no TPS e no coaching. Inicialmente os professores passam a ser mentores, depois, como mestres farão constantes mudanças de patamar. Os alunos se responsabilizarão por si e assim desenvolverão suas competências, algo que tende a se transformar numa obrigação para a sobrevivência dele, de quem aceita ser professor e da própria IES,

Nitidamente, quem conseguir dar o salto, desencadeará um círculo virtuoso interno e externo, pois levará junto todo o contexto econômico no qual está inserido, proporcionando a si e a seu entorno significativa vantagem competitiva.

Para os envolvidos, o desafio é vital, mas também muito interessante e de elevado estímulo. Vale a pena, pois significa melhor, muito melhor, qualidade de vida gratificante e plena de satisfação. Basta começar. De qualquer maneira terá que ser feito, pois as pessoas, ao se envolver com o ambiente universitário, especialmente na sala de aula ou na alta gestão, deverão possuir ou desenvolver a qualificação para a superação do desafio com o qual a humanidade as atualmente confronta – as Instituições de Ensino Superior voltarem a ser um “rito de passagem”, onde, de um lado temos um jovem que não se responsabiliza por si e aprendeu a optar pelo lúdico e do outro, um adulto preparado para ser feliz.

Para estimular uma reflexão a respeito, seguem algumas perguntas:

O que você pessoalmente está fazendo para conseguir superar o “desafio final”, ter mestres e mentores como professores?
O que a sua IES está fazendo para vencer esse desafio?
Está se buscando instrumentos como o coaching racional e o TPS?
Ensinar é sua competência básica, o seu “dom”? Você entra em flow – “incorpora” um “espírito especial” quando está ensinando ou fazendo a sua principal atividade?
Ser o gestor é a realização de uma ambição ou manifestação da imatura ganância por poder?
Que ferramentas você domina para ajudar seus alunos a descobrir e desenvolver sua competência básica?
O seu QA – Coeficiente para superar Adversidades - é alto ou baixo?
Qual o seu NR – Nível de Resistência a mudanças? Quanto mais alto, menor o seu QA.
Qual a sua disponibilidade de testar, em si mesmo, ferramentas de desenvolvimento comportamental?
Quanto você se impõe como professor? Quanto por conteúdo e quanto por competência?

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