quarta-feira, 11 de abril de 2007

Mamãe, Cadê Você?

Mamãe, Cadê Você?

Queira você ou não, o relacionamento que teve ou tem com sua mãe define positiva ou negativamente muito da maneira como empreende hoje, independente da sua idade, por isso talvez seja necessário decidir “romper o cordão umbilical”.
Por exemplo, muitas pessoas chegam à idade adulta com um grande pavor de “ter que vender” e, pior ainda, “ter que SE vender”. Algo que deveria ser natural é encarado como uma terrível obrigação. Apesar de aparentemente ajudarem, a inteligência e habilidade técnica, muitas vezes só complicam mais ainda esta situação.
Inúmeros são os que tentam fugir do “monstro” da venda com a filosofia: “vou fazer tão bem feito, que alguém há de vir comprar o que faço” e “quanto melhor fizer, mais compradores virão!”.
Por um bom tempo, isto funcionou, mas atualmente não basta mais, seja devido à globalização ou a outro fenômeno econômico ou sociológico qualquer. Hoje, mais do nunca, é preciso, é questão de sobrevivência ir ao mercado repleto da vontade de vender/vencer.
É difícil? Na história individual de cada empreendedor, é razoavelmente fácil determinar a origem esse bloqueio interno, dessa postura de subserviência, que nos coloca na perene expectativa passiva de que um outro venha e “nos compre”, uma postura semelhante a dos empregados que afirmam que a empresa “os contratou” agora deve pagá-los, como se isso fosse uma relação unilateral, ou pior ainda a postura de funcionários que por terem passado num concurso, não se julgam obrigados a dar nada em troca pelo que recebem no final do mês.
Normalmente as pessoas que mais dão vazão ao potencial de fazer, criar, etc., e menos àquele de vender, são as que foram os filhos prediletos das suas mães. Eles foram acostumados a ser servidos, em troca de pouco ou quase nada, pela “mamãe, a mulher mais importante do mundo”! Em troca de todo aquele serviço de 1a. Classe, tendem a fazer bem feito somente aquilo que é prioritário para a “mamãe”, não precisam mostrar para mais ninguém. Os dois se bastam...
Neste caso será a mãe a definir as prioridades, que poderão ser “deixar o quarto arrumado”, ou seja, basta ser organizado, “tirar boas notas no colégio”, ser dedicado, “não falar palavrão”, ser educado, “se comportar direitinho”, ser gentil, etc. Enfim, “basta que se faça as coisas bem feitas para ser aplaudido, amado”, pensa quem, possivelmente, não terá grande futuro como empreendedor, mesmo apenas em formação.
Às vezes a figura da mãe pode ser substituída por uma professora, uma avó, uma madrinha, mas sempre existe. Pode até mesmo ser um homem, que faz o papel da “mãe que serve” e define o que é dado em troca pelo serviço.
Uma vez que alguém se acostuma a ser servido, é duro quando a situação se reverte e ele deve servir alguém que não necessariamente o ama, como é o mercado. De certa forma devemos assumir um pouco o papel da “mãe que serve” e o mercado é o filho que precisa ser conquistado com persistência para um dia “retribuir todo amor que lhe foi dado”. Ai sim numa relação sadia e não como a que muitas vezes é estabelecida entre mãe e filho.
No início, pela falta de experiência e muitos maus hábitos que levam à passividade, nos sentimos incapazes, pequenos, traídos. Este é o momento em que muitos choram e até gritam interiormente: “mamãe, cadê você?”. E o silêncio frio e cortante é a única resposta recebida.
Não é nenhum acaso, que muitos empresários bem sucedidos, não só financeiramente, em uma certa época preparatória de suas vidas foram, por duras contingências, garçons ou vendedores. Ou não tiveram mães ou estas foram duronas, como é o caso do bilionário Richard Branson, da Virgin Records e Airlines, como ele mesmo conta em “Perdendo Minha Virgindade”.
A grande vantagem da pessoa que se supera, algo que é uma experiência interior, pessoal, única e exclusiva, seja por que forma for, é que quando se acostuma a ir além daquele momento em que “chorava silenciosamente ou ficava aos berros, porque a mamãe não me ouviu!”, ela treina, repete, vai de novo, não desiste nem na enésima vez em que não é bem sucedida, até que, em um determinado momento, o “cordão umbilical se rompe” e o mercado passa a lhe corresponder positivamente.
Todos os que não desistem, que superam seus próprios bloqueios, apesar das armadilhas que se auto-impõem, tornam-se vendedores/vencedores! Eles conseguem conquistar o mercado. Aquele filho indiferente e meio autista se transforma em outro extremamente atencioso, carinhoso, amoroso, cada vez mais disponível e com melhores retornos.
Onde está a importância disso tudo?
Ser empreendedor, com condições para evoluir a empresário é uma arte superior. Mesmo que a pessoa seja empresária de si mesma, como um médico, advogado ou agricultor, quando ela dá alguma vazão, muitas vezes ínfima, parcial, ao grande potencial com o qual todos os seres humanos nascem. Empreender, essa arte é tão bela e qualificada, quanto a dos grandes mestres da pintura, música, escultura, etc., mas com uma característica a mais: ela é o braço operador da Providência Divina.
Todo empresário que não desiste acaba se tornando oportunidade e fonte de crescimento para muitas pessoas. Sem empresários não existem “empregos”. Esta é uma promessa que todos os governos fazem, mas que só os empresários podem cumprir. E não são apenas os empregados diretos que se beneficiam da vitória daquele empresário que se superou. Sem empresas, não há impostos, que sustentam tantas e tantas outras pessoas, inclusive aquelas que compõem o próprio governo que promete os empregos.
Qual é a atividade mais nobre, mais difícil e mais importante, na superior arte de empresariar? Vender!
Deve-se buscar a venda sempre, com humildade, mas sem se humilhar, pois afinal não se é nenhum “vira-lata que implora por comida”, como Nelson Rodrigues diria.
Vender engloba desde conseguir que nos recebam e assistam demonstrar o nosso produto ou serviço, até liderar outros com idéias e ideais. Uma vez recebidos, se não comprarem ou não nos seguirem, isso significa simplesmente que é preciso se aprimorar mais ainda. O “filho” ainda precisa ser conquistado. Ou se quisermos, a “mãe mercado” ainda é uma megera, uma madrasta. A lição de casa, o quarto ainda não está bem arrumado!
Certamente vale a pena persistir, como uma mãe que quer conquistar o amor de seu filho. Aliás, acho que esta é uma das razões porque as mulheres tem sido cada vez mais bem sucedidas como empreendedoras. Está na hora de todos nós aprendermos a ser “mães” e deixarmos de ser “filhos que devem ser conquistados”. Até para honrarmos aquela pessoa que tanto nos amou e por excesso de amor, tanto nos prejudica, algo que se já frustra a nós, imagina a ela. Ao proceder afetivamente como o fez ela afinal, queria a nossa felicidade. E nada melhor do que fechar vendas para isso!
O crescimento que aguarda os que rompem o “cordão” é enorme, seja do ponto de vista econômico e social, mas especialmente do pessoal (felicidade!).
Depois, ao olhar para trás, poderá se ver que não foi tão difícil assim. Muito já se sabia sobre “como servir” ao ter observado por vários anos aquela “mãe que servia” quando ainda éramos crianças.
O que fazer?
Basta parar de chamar a “mamãe!” e se lembrar de assumir a postura que ela teria diante do mercado que você deseja conquistar.
Harry Fockink harry@fockink.com.br

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