quarta-feira, 11 de abril de 2007

A LÍNGUA GAÚCHA E OS CAUSO DAS ESCRITURA

A LÍNGUA GAÚCHA E OS CAUSO DAS ESCRITURA

Desconheço o autor

Foi mais ou menos assim que o guasca contou:

"Pois não sei se já les contei os causos da Escritura Sagrada. Se não les contei, les conto agora:

A história essa é mui comprida, mas vale a pena contá.

De Adão e Eva acho que não é perciso, porque todo mundo sabe que eles foram expulso do Paraíso por tomá banho pelado numa sanga.

Naqueles tempos esse mundaréu todo era um pasto só, sem dono, onde não tinha nem deles nem meu.

O primeiro índio a botá cerca de arame falpado, foi um tal de Abel, mas nem chegou a estender o primeiro fio, porque levou um pontaço no peito, do irmão dele, um tal de Caim, que tava meio desconforme com a divisão.

O Caim entonces, ameaçado de processo feio, se bandeou pros lados do Uruguai.

Deixou um filho dele, um tal de Noé, tomando conta da Estância.

A Estância essa ficava nas barrancas de uma corredeira e o Noé uns anos depois pegou uma enchente das feias pela frente.

Coisa mui séria.

Caiu barbaridade de água.

Tanta água que tinha índio pescando jundiá em cima de um cerro.
O Noé entonces botou as criação em cima de uma balsa e se largou nas correntezas, o índio velho.

A enchente era tão braba, que quando Noé se deu conta, a balsa tava atolada num banhado chamado Dilúvio.

Foi aí que um tal Moisés varou aquela água toda com vinte juntas de bois e tirou a balsa do atoleiro.

Bueno, com aquele despropósito, as família ficaram amigas, e a filha mais velha de Noé se casou-se com o filho mais novo de Moisés e os dois foram morá numa estância mui linda chamada estância da Babulônica.

Bueno, tavam as famílias ali, tomando mate, no galpão, quando se chegou um correntino chamado Golias com mais uns trinta castelhanos do lado dele.

Abriram a cordeona e quiseram obrigá as prenda a dançá uma milonga.

Foi quando os velhos, que eram de muito respeito, se incomodaram e deu-se o entrevero.

Peleia braba, seu.

O correntino Golias, na voz de vamos, já se foi e degolou de um talho só o Noé e o velho Moisés, e já estava largando planchaço em cima do mulherio, quando um piazito carreteiro, de seus dez anos e pico, chamado Daví, largou um bodocaço no meio da testa do infeliz, que não teve nem graça.

Aí a indiada toda se animou e degolaram os castelhanos.

Dois que tinham desrespeitado as prendas foram degolado com o lado cego do facão.

Foi uma sangreira danada, tanto que até hoje aquele capão se chama Capão do Mar Vermelho.

Entonces foi nomeado delegado um tal de major Salomão.

Era home de cabelo nas venta, o major Salomão.

Nem les conto.

Um dia o índio tava sesteando quando duas velhas se botaram em cima de um gurizote que tava vendendo pastel.

O major Salomão era muito chegado ao piazito e passou a mão no facão e, de um talho só, cortô as velhas em dois.

Por essas estimativas, o major Salomão o que tinha de brabo tinha de mulherengo.

Eta índio bueno, seu.

Onde boleava a perna - pois nunca tinha usado cueca, já deixava filho feito, e como vivia boleando a perna, teve filho que Deus me livre, e tudo com a cara dele, que era pra não haver discordância.

Só que quando Nosso Senhor qué, até égua véia nega estribo.

Logo, logo, a filha das predileção do major Salomão, uma tal de Maria Madalena, fugiu da Estância e foi ser china de bolicho.

Foi uma vergonheira pra família, mas ela puxou à mãe que era uma paraguaia meio gaudéria que nunca tomou jeito na vida, e o pobre do major Salomão se matou-se de sentimento com uma pistola Eclesiaste de dois canos.

Mas vejam como é a vida.

Essa mesma, a Madalena, se casou-se depois com um coronel Ponciano Pilato.

O coronel Ponciano foi quem tirou ela da vida.

Eu conheço três causos do mesmo feitio e nenhum deles deu certo.

Como dizia muito bem o meu finado pai, mulher quando toma mate em muitas bombas, nunca mais se acostuma com uma só.

Mas nessa contraproducente até que houve uma contrapartida.

O coronel Ponciano e a Madalena tiveram doze filho, os tal de Apóstolo que são muito conhecido pelas bondade e caridade que fizeram.

Foi até na casa deles que Jesus Cristo churrasqueou com a cunhada da Maria Madalena que depois foi santa afamada.

A tal de Santa Ceia.

Era um tempo muito mal definido.

Andava uma seca braba nos campo.

São José e a Virge Maria tinham perdido todo o gado e só tavam com uma mula branca no potrero, chamada Samaritana.

Um rico animal, criado em casa desde guacha, que só faltava falá.

Pois tiveram que se desfazê da pobre guachinha.

E como as desgraça quando vem, já vem de braço dado, foi bem aí que estourou a Revolução.

Os Maragatos, chefiados por um tal de coronel Jordão, acamparam na entrada da Vila.

Só não entraram porque tava lá um destacamento comandado pelo tenente Lazaro, aquele mesmo que por duas vezes foi dado como morto; mas aí um cabo dos provisório, um tal de cabo Judas se passou-se pros Maragatos e já se veio uns tal de Romano que tavam com uma força de Cavalaria agrupada numas várzeas e ocuparam a Vila.

Nosso Senhor foi preso pra ser degolado por um preto muito forte e feio chamado Calvário, degolador afamado, e que era filho da velha Palestina que tinha sido cozinheira da Virgem Maria.

Degolador é como cobra, desde pequeno já nasce ingrato.

Mas entonces botaram o Nosso Senhor na cadeia junto com dois abigeatários, um tal de João Batista e o primo dele, Heródio dos Reis.

Os dois tinham peleado por causa de uma baiana chamada Salomé e no entrevero balearam dois padres, monsenhor Caifás e cônego Atanásio.

Mas aí veio uma força da Brigada comandada pelo coronel Jesusalém que era meio parente do home por parte de mãe e com ele veio mais dois corpo de Provisório e se pegaram com os Maragatos.

Foi 40 dia e 40 noite de bala e bala.

Morreu três Santos na luta: São Luca, São João e São Marco.

São Mateu ficou trêis mez morre não morre, mas salvou-se o índio finalmente.

Nosso Senhor pegou três balaços, um em cada mão e mais um que varou os pé de lado a lado, e ainda levou mais um pontaço na altura da costela.

Ferimento feio que Jesus curou tomando vinagre.

Aí, Nosso Senhor desiludiu-se dos homes, subiu numa cruz, disse adeus pros amigos e mandou-se de volta pro céu, deixando os dez Mandamentos, que em verdade, são só cinco, mas que se pode acolherá em dois: NÃO SE MATA HOME PELAS COSTAS, NEM SE COBIÇA MULHER DOS OUTROS PELA FRENTE.

2 comentários:

alvaro disse...

Sergio Jockmann é o autor.

Unknown disse...

De fato, o autor deste texto é Sérgio Jockymann.
Sergio Jockymann foi um jornalista, romancista, poeta e dramaturgo brasileiro. Ficou conhecido por seu trabalho na comunicação do Rio Grande do Sul e por seus trabalhos como dramaturgo no teatro e na televisão. Foi deputado estadual do Rio Grande do Sul entre 1991 e 1995. Wikipédia